Eduardo em viagem para a Guiné-Bissau
Eduardo em viagem para a Guiné-Bissau
Em março deste ano, o graduado do Instituto Haggai do Brasil Eduardo Luís de Carvalho Faria (Campinas, 2003) visitou a Guiné-Bissau. Ele visitou aquele país na qualidade de professor de um dos módulos do curso de Mestrado em Teologia, com ênfase em ministérios, promovido pelo Instituto Bíblico de N’tchumbé, na Guiné-Bissau, costa ocidental da África, em parceria com o Seminário Betel do Rio de Janeiro. Foram 15 dias de trabalho intenso. Além das aulas, Eduardo também pregou em duas igrejas da região.

Visão parcial do Instituto Bíblico de N´tchumbé
Visão parcial do Instituto Bíblico de N´tchumbé

A seguir, veja um breve relatório preparado por Eduardo:

PAÍS: A Guiné-Bissau possui aproximadamente dois milhões de habitantes, foi colônia portuguesa e há 38 anos conquistou sua independência. O fato triste é que nenhum presidente da república, até hoje, conseguiu completar o seu mandato, pois ou foi assassinado ou sofreu um golpe de estado. No país coexistem cerca de 30 etnias que politicamente não conseguem se unir para construir sua nação. Não há distribuição de energia elétrica. Quando anoitece, o país fica às escuras, dependendo dos poucos restaurantes, instituições e casas que possuem gerador movido a óleo diesel (que é caro) para iluminar um pouco as ruas. A saúde é precária, a educação também e o índice de violência, especialmente no que diz respeito à pedofilia, é alarmante.

CLIMA: Foram dias de muito calor e, como não há energia elétrica, o jeito foi me abrigar em alguma varanda ou nas sombras das árvores, mas nada que ultrapassasse muito a linha do suportável.

Mulher típica guineense caminhando com filho e fardo na cabeça
Mulher típica guineense caminhando com filho e fardo na cabeça

CULTURAA cultura local é bem diferente da nossa. O povo é muito acolhedor e sempre sorridente (apesar das dificuldades), características que me ajudaram bastante na adaptação. Porém, o que mais se vê são as mulheres trabalhando muito, debaixo do sol, carregando o filho nas costas e seus fardos, alguns bem pesados, na cabeça, enquanto os homens ficam sentados nas ruas e nas sombras das árvores conversando. Logicamente, a maioria dos homens, chefes de família, trabalha e traz o sustento financeiro para casa, mas de longe o trabalho delas é mais pesado do que o deles. Por exemplo, para cozinhar o arroz, elas participam de todo o processo: plantar, colher, ferver, secar, passar no pilão e, por último, prepará-lo para as refeições. Para lavar roupa, elas precisam buscar a água (muitas vezes em poços distantes) e transportá-la na cabeça até suas casas. O interessante é que, por mais que seja espantoso esse tipo de trabalho físico, a mulher guineense só se sente mulher fazendo estas coisas. Faz parte da sua identidade cultural feminina.

Foto oficial do grupo de alunos do curso ministrado
Foto oficial do grupo de alunos do curso ministrado

IDIOMA: A Língua oficial é o português, que eles pronunciam com o sotaque de Portugal. Portanto não tive problemas com o idioma. O detalhe é que eles conversam mais em crioulo, sua segunda língua. Cada guineense fala, em média, três idiomas: ainda bem pequenos eles aprendem a língua de sua etnia, depois o crioulo e, quando entram para a escola, aprendem o português. Não é fácil encontrar crianças falando português, mas os adultos, especialmente líderes e comerciantes, falam o português fluentemente.

COMIDA: A base da alimentação no país é o arroz, que é produzido em alta escala, sem chegar a exportá-lo por conta do alto consumo entre eles. Uma família guineense (de 6 a 12 pessoas) tradicionalmente consome uma saca de 50 quilos de arroz por mês (eles comem arroz até no café da manhã). Junto com o arroz, assim como no Brasil, eles servem carne bovina, pedaços de galinha e peixe (geralmente de água doce). Os molhos são muito bem temperados com pimenta, especiarias da terra, óleo de soja e azeite de dendê. O mais curioso é o molho de amendoim, bem saboroso, mas tão gorduroso quanto os outros (as terras guineenses também produzem amendoim em larga escala). Não seu hábito comer feijão. Graças a Deus não tive nenhum contratempo com a alimentação.

Aula sob a sombra das árvores em frente das salas de aula
Aula sob a sombra das árvores em frente das salas de aula

MINHA MISSÃO: Fui à Guiné-Bissau para dar aulas no Instituto Bíblico de N’Tchumbé, instituição mantida pela Igreja Evangélica da Guiné-Bissau que firmou parceria com o Seminário Betel, Rio de Janeiro, para uma turma de 12 alunos. Todos estão fazendo o mestrado em Teologia. Minha matéria foi Gestão de Projetos. Durante 36 horas/aula pude ajudá-los a sistematizarem suas idéias a fim de não só colocá-las em prática como também orientá-las até sua conclusão. Na última aula, cada aluno apresentou seu projeto para toda a turma e ficamos muito emocionados com os resultados. Um deles nos disse que até então, em sua vida, não havia escrito um projeto conforme os ensinos da matéria e que agora seria mais fácil executá-lo até a fase de conclusão. Para mim, foi gratificante demais, mesmo porque foram projetos criados por eles mesmos, conforme a necessidade que cada um percebe na sua realidade, demonstrando assim a capacidade que possuem de produzir, por si mesmos, idéias que resultarão no crescimento e desenvolvimento da comunidade onde estão inseridos. Um dos exercícios da minha matéria foi conhecer e apresentar um projeto de construção de fossas e sumidouros nas Tabancas (nome dado às comunidades com várias casas bem próximas, pertencentes a uma mesma família e sob a liderança do membro mais idoso) para o saneamento básico da mesma.

Pregação em duas igrejas locais
Pregação em duas igrejas locais

PREGAÇÃO NAS IGREJAS: Preguei em duas igrejas nos dois domingos que passei lá. No domingo, dia 17, preguei na Igreja Evangélica de Cuntum – do pastor Março (aluno do mestrado), bairro da capital Bissau, e, no domingo 24, na Igreja Evangélica de N’tchumbé – do pastor Quissif, interior do país, próxima ao instituto Bíblico de N’tchumbé.

Forte presença e avanço muçulmano
Forte presença e avanço muçulmano

REALIDADE RELIGIOSA: O islamismo cresce na Guiné-Bissau. A estratégia do Islã consiste em construir prioritariamente clínicas e/ou escolas e em perfurar poços. Com esse trabalho assistencial, a mensagem islâmica é prontamente recebida por seus beneficiários. Em minha opinião, a evangelização da Guiné-Bissau deveria acompanhar essa estratégia e colher os belos frutos advindos da implantação dos projetos que nossos alunos apresentaram durante o curso.